contatos@servus.org.br 55 99 98113-4800

A GLÓRIA DO MINISTÉRIO CRISTÃO É SERVIR A IGREJA SEGUNDO O PADRÃO DE CRISTO

O vocábulo ministério nunca foi tão utilizado quanto nos últimos dias no seio da comunidade evangélica. Ainda que desprovidos dos significados aplicáveis ao termo muitos cristãos estão se utilizando dele para conceituarem atuação pessoal dos indivíduos na congregação ou fora dela. Ignorando o propósito e a essência do ministério cristão, evocam-no mais para gloriar-se de ativismos religiosos, que para desfrutar da bênção de servir fielmente conforme o modelo de Cristo. Desprovido da intenção de exaurir o tema, que, por sua própria natureza cristocêntrica se faz inesgotável, mas com a convicção de proporcionar contribuição salutar, o presente texto fará concisa abordagem sobre o ministério, sem pormenorizar os tipos, nem a etimologia dos muitos termos originais, enfatizando apenas o contexto geral que delineia a semântica deste.

Há muitas palavras com vários significados, poucas com tantas aplicações e sentidos como a palavra ministério no Novo Testamento, e esta certamente é uma das razões do uso generalizado. Autores criteriosos expressam essa dificuldade: Tenney diz que:

O NT emprega uma variedade de termos em ligação com diferentes tipos e funções do ministério, tanto geral como particular. Embora cada termo tenha a sua própria nuança de significado, existe considerável sobreposição de uso, de forma tal que, até de um único ponto de vista, qualquer um dos termos pode ser usado para designar uma execução particular de ministério ou a pessoa que o realiza. (2008, p. 285).

Por sua vez, em referência a Romanos 12.7, Champlin fala: “é difícil nos decidirmos com certeza sobre o seu significado preciso” (2002, p.814). Note que enquanto Tenney destaca a multiplicidade de termos aplicáveis ao sentido neotestamentário de “ministério”, Champlin menciona a dificuldade de aplicar apenas um sentido à ocorrência de um destes termos. Porém o significado de ministério não é um mar de confusão, ainda que seja uma fonte inesgotável de sabedoria.

Servir é o sentido mais intenso de ministério. Contrastando com o serviço especializado do sacerdote do Antigo Testamento, aonde o ministro fazia parte de um clã especial e permanecia separado do povo,

E estarão sobre Arão e sobre seus filhos, quando entrarem na tenda da revelação, ou quando chegarem ao altar para ministrar no lugar santo, para que não levem iniquidade e morram; isto será estatuto perpétuo para ele e para a sua descendência depois dele (Ex 28.43).

o Novo Testamento estabelece uma nova situação de igualdade em Cristo para todos: “vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo” (I Pe 2.5). E apresenta o significado inicial de ministério como servir à mesa, “Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele” (Jo 12.2). Este conceito recorrente no NT ganha contornos específicos no contexto da igreja, como se pode ver no capítulo 6 de Atos dos Apóstolos. Pelo que se entende, adotou-se a conotação de “trabalho servil” do grego clássico, adicionou-se a conotação de “trabalho beneficente” motivado por uma postura espiritual resultante da ação graciosa do Espírito de Deus:

Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra (At 6.1-4).

“Vê-se, portanto que a palavra ‘ministério’ se aplica tanto ao serviço físico como ao espiritual, os serviços mais chãos e mais elevados que podem ser realizados na igreja” (CHAMPLIN, 2002, p. 814). Assim os diáconos são, não exclusivamente, ministros das mesas em uma relação humana de cuidado com o físico e material; os apóstolos ministros da palavra em uma relação humana de cuidado espiritual e os anjos ministros espirituais da providencia divina sobre toda a igreja como diz Hebreus (1.14): “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação?”.

Este versículo já traz consigo a ideia de propósito. Embora sejam muitos os dons e ministérios e seus alvos específicos, o macro objetivo é comum, “servir os que hão de herdar a salvação”. Todos os ministros e ministérios trabalham servindo a igreja para que esta por si mesma e através dos seus membros aprendam igualmente a servi outros “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas […], tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Destarte qualquer motivação com direcionamento diferente se demonstrará inapropriada.

O ministro é um servo que se abriga na autoridade daquele a quem serve e encontra felicidade em ser fiel e útil ao seu Senhor. E disto o “Servo de Jeová” (Is 42) é o supremo exemplo. Aquele que sendo Deus se fez servo, semelhante aos homens (Fp 2.7). E, mesmo na hora de maior agonia orava e dizia faça-se a tua vontade e não a minha (Lc 22.42). Quando os seus discípulos seguindo a lógica do poderio humano em voga nos seus dias e até uma expectativa messiânica desvirtuada se puseram a desejar os melhores lugares e as posições de liderança no reino do messias, o Senhor explicou para eles:

Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20.25-28).

Elwell (1990, p. 525) destaca que o estudo dos termos que se traduz por ministro evidencia que Deus o chamou para uma posição de muito mais responsabilidade que privilégios. É a humildade que dá vida ao ministério cristão, e isto, já está evidente no termo e mais enfatizado ainda no exemplo de Jesus. Nem mesmo os dons do ministério cristão que aparelha a liderança da igreja tornam essa liderança venerável ou parte espiritualmente privilegiada do corpo de Cristo, todos são igualmente servos, todos igualmente importantes no corpo. Paulo pergunta: “Pois, que é Apolo, e que é Paulo, senão ministros pelos quais crestes, e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada um?” (I Co 3.5). Mas há uma glória indizível em servir neste ministério do Senhor, o mesmo apóstolo diz: “Dou graças àquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus nosso Senhor, porque me julgou fiel, pondo-me no seu ministério” (I Tm 1.12).

Em suma, “O ministério cristão de todos os tipos e manifestações deve seguir, em última instância, o ministério de Cristo” (Tenney, 2008, p. 286). O servo de Jeová que verá o fruto do penoso trabalho da sua alma, e ficará satisfeito (Is 53.12).

 

Walberto Magalhães Sales.
Presidente do Instituto Servus.

 

BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, Russel Norman. Novo testamento interpretado versículo por versículo, vol. 3. São Paulo: Hagnos, 2002.

ELWELL, Walter A. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã, vol. 2. São Paulo: Vida Nova, 1990.

TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da bíblia, vol. 4. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.